segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Deputados não sabiam o alcance das acusações", lembra jornalista sobre escândalo do mensalão

DE SÃO PAULO

"Esse dinheiro era claramente de caixa dois. A gente não é bobo". A frase é do marqueteiro Duda Mendonça, parte de um depoimento surpresa à CPI dos Correios que deixou o presidente Lula muito perto de sofrer um processo de impeachment.

Para muitos, foi o momento mais agudo da crise do mensalão, deflagrada após entrevista do então deputado Roberto Jefferson à Folha, em junho de 2005.

Duda Mendonça na CPI dos Correios, no Senado
Responsável pela campanha do PT que levou Lula à Presidência em 2002, Duda disse que dos R$ 15,5 milhões que recebeu pelo trabalho, R$ 11,9 milhões vieram irregularmente por meio do publicitário mineiro Marcos Valério, em conluio com o tesoureiro petista na época, Delúbio Soares.

Pronto. Estava feita a ligação do escândalo com a figura do presidente da República. O PT, naquele dia, entrou em parafuso. Numa cena marcante, deputados choraram em plenário.

Lula, apoiado nos movimentos sociais, salvou-se. Nunca mais sua destituição passou tão perto.

ASCENSÃO E QUEDA

Vera Magalhães, editora de Poder, relata como foi o dia do depoimento de Mendonça. Ela lembra que suas declarações monopolizaram por dez horas as atenções do público.

"Em agosto de 2005, a CPI dos Correios estava no auge. Depois de um dominó que arrastou ministros e dirigentes de proa do PT, a oposição dizia aos repórteres que cobriam a comissão que, em breve, haveria um depoimento-bomba, capaz de abalar o governo Lula.

No dia 11, um dos integrantes da CPI me telefonou logo cedo: "O Duda Mendonça vai depor hoje e vai contar tudo". Um forte esquema de segurança foi montado para proteger o marqueteiro. A sala da CPI estava apinhada de parlamentares e jornalistas.

Na era pré-Twitter, aquele depoimento monopolizou as atenções do país por mais de dez horas.
Verborrágico, Duda enfileirava revelações: recebera R$ 15 milhões da campanha de Lula em caixa 2, R$ 11,9 milhões deles de Marcos Valério, e boa parte numa offshore nas Bahamas, a Dusseldorf.

Governistas e oposicionistas se entreolhavam, sem saber ao certo o alcance das acusações. Naquela tarde, deputados do PT, que depois deixariam o partido, choraram em plenário, numa das cenas emblemáticas do escândalo do mensalão.

A sensação geral entre parlamentares e jornalistas era de que aquele era, entre todos os fatos desencadeados pelas entrevistas em que Roberto Jefferson revelou a Renata Lo Prete o esquema do mensalão, o mais contundente.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), membro da CPI, me disse: "Duda elegeu o presidente. Duda vai derrubá-lo". No mesmo dia, Lula reuniu ministros e a palavra impeachment foi várias vezes mencionada. O presidente decidiu que convocaria rede nacional de rádio e TV para dizer que fora "traído".

Depois de cogitar de fato levar adiante um pedido de impeachment de Lula, a oposição recuou e apostou que o melhor seria enfrentá-lo, enfraquecido, nas urnas.

Lula se reelegeu, recuperou a popularidade no segundo mandato e elegeu Dilma Rousseff para sucedê-lo. Os 38 réus do mensalão devem ser julgados em meados de 2011."

Fonte.

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